Autor(a): Ana Lucia da Silva
[desenhava meus olhos para me cegar – estudos sobre o sol e mar]
Sombra múltipla que o sol te guarda
Tu que amas o suficiente para não me deixar nunca
E que danças ao sol sem levantar poeira
Guillaume Apollinaire
quando todos partiram
fomos cavar miudezas no dia
aguardávamos as intermináveis
horas do nunca-mais
(o oitavo dia)
todas as línguas ainda nos procuravam
mesmo que tarde
talvez
Nunca foram
tantos nossos enganos
(como se tivéssemos feridas
feitas de carne e parafina)
volteávamos montanhas
entretantos. entretodos
colhíamos penhascos
ruínas aléns
não prescindíamos
impossibilidades
pendiam os olhos
arrefecidos numa cadencia
estas areias que nos tomam
como pó
são estes caminhos ainda sina. chama aos cantos. despe o que considera uma oferenda. nem todos saberão o que viu quando teus passos se perderam e era um corpo nu a implorar paragens. traz em suas mãos meus olhos. um resto de areias que deixou mitigar. bifurcações, prismas, furores. o caminho não há. o que deveria chamar é o meu nome
ânsia esquecida/
vidrilhos girando na nitidez do seu braço
tocando o meu
eu te esperava n’areia
um vento leste
seu retorno
Um monólito ainda se avistava o mesmo
éramos os mesmos
eu alongava os braços
para você adormecer
ali
neste lugar que estávamos
entre vestígios e reencontros