Foram quase duas horas entre palestra e bate-papo da jornalista Daniela Arbex com um público de cerca de 100 pessoas reunidas na Biblioteca Afonso Schmidt, na noite de quarta-feira (30), onde ela teve a oportunidade de contar os bastidores do que foi escrever o livro-reportagem “Holocausto Brasileiro”.
Sua narrativa atraiu a atenção dos presentes, principalmente, por ser tratar de jornalismo investigativo que já rendeu mais de 300 livros vendidos e está em sua 19ª edição.
A história fala sobre o que foi o maior hospício do Brasil no século XX conhecido por “Colônia” que funcionou na cidade de Barbacena (MG) com capacidade para 200 internos e chegou a ter mais de 5 mil doentes, pessoas normais, homens, mulheres, crianças, todos esquecidos lá, vivendo em condições sub-humanas e tratados como bichos.
Inicialmente produzida para o jornal que trabalha, Tribuna de Minas, de Juiz de Fora, ela revela que foram quase dois anos para conseguir contar a história que checou o país e o mundo.
“Desde que soube desse caso, em 2009, fiquei atrás, até que a publicação de fotos chocantes, de Luiz Alfredo, na revista ‘O Cruzeiro’, completou 50 anos em 2011, Não teve mais jeito, tive autorização e fui atrás dos sobreviventes dessa história”.
Uma das lembranças dela foi de um paciente conhecido por Cabo, que foi levado para o hospício e nunca teria falado. Até que após anos falou algo e os funcionários ficaram surpresos indagando porque nunca tinha falado. ‘Uai, ninguém nunca me perguntou’, foi a resposta.
A estimativa é que mais de 60 mil pacientes morreram dentro dos muros, quase 1.900 cadáveres foram vendidos para 17 universidades brasileiras. Este triste capítulo na história brasileira também foi transformado em documentário produzido pela HBO e com co-direção da autora.
Por meio dessas palestras, Daniela quer despertar o gosto pela leitura, pela investigação, em especial para os jornalistas e futuros profissionais. “Eu nunca saio de um bate-papo da mesma forma que eu entrei, sempre aprendo algo”.
A jornalista, que já recebeu inúmeros prêmios, incluindo o americano Knight International Journalism Award, em 2010, e o IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina (2009), explica que a experiência de escrever é dolorosa devido ao estudo em que o autor se dedica e ao mesmo tempo é prazerosa. “Esse abrir mão para viver a história do outro é maravilhoso”.
Além do livro ‘Holocausto Brasileiro’, Daniela Arbex escreveu o livro ‘Cova 312’ que mostra o período da Ditadura sob um novo ângulo e anunciou que o terceiro vem por aí, com previsão de lançamento para janeiro de 2018. “Mas não posso falar por conta de exclusividade com a editora. Só posso dizer que mexeu muito comigo”.